"Banhistas" de Picasso
Deito-me de bruços
e fecho os olhos.
Abandono o corpo
aos raios tímidos
que teimam em passar
a frágil cortina de nuvens brancas
e torna subtis os
beijos dourados com que
aquecem a minha pele.
Deito-me de bruços
e fecho os olhos.
Escuto o rumor das ondas,
O seu fragor,
quando quebram na rocha negra,
que se aquieta e se amacia
onde, um dia,
as águas lhe apagaram o fogo
e lamberam a ferida ardente.
Deito-me de bruços
e fecho os olhos,
enquanto ouço o suave roçagar
das asas das rolas.
Sobrevoam incansavelmente as águas,
transformando-se,
por breves momentos,
em belíssimas aves do paraíso,
ao vestirem os seus corpos
dos inacreditáveis matizes de azul
que o reflexo das águas, lhes empresta.
Deitada de bruços e,
ainda de olhos fechados,
vou passando, erraticamente,
os dedos pelo chão colorido
desenhando obras primas
pejadas de sereias
que aguardam ainda,
os Ulisses mais incautos;
de “meninas do mar”bailando
fazendo rodopiar loucamente
os cabelos de algas finíssimas;
de rochedos no fundo do mar
acolhendo antigos galeões
que apenas deixam antever
os seus finos tesouros perdidos,
de civilizações esquecidas
nas profundezas das águas...
Abro os olhos lentamente,
contrariadamente...
Algo indefinível ainda,
me obriga a sair do doce torpor
em que havia mergulhado.
O sol,
talvez na sua persitência mansa,
havia diluído o manto de nuvens
que o cobria.
Procuro uma sombra.
Sento-me,
protegida de outros beijos
mais dolorosos, mais intensos,
que não desejo
e olho esse mar de frente.
Quero fixar os seus tons,
os seus movimentos,
os seus sons,
ora sussurrantes, ora fragorosos,
os seus cheiros, intensos e doces.
Quero colá-los à pele,
senti-los em mim,
fazer, também eu,
parte desse infinito.