Encolhida no sofá,
Envolta em mantas fofas,
Em gatos que se enroscam em mim
Ronronantes de mimo
E em folhas de jornais esquecidas
Gozo o fugaz prazer da inacção.
Tento esvaziar a mente!
Tento parar o fluxo constante
De pensamentos inquietos
Que teimam em manter-se.
Em acordar-me
Para o que quero estar adormecida.
Em lembrar-me
O que pretendo esquecer.
As chamas, na lareira,
Devoram a madeira crepitante
Elevando-se em orgias de cor.
Quem me dera
Poder elevar-me com elas
E dissolver-me em fumo!
Apesar de desligada,
A televisão mostra-me imagens
Que eu não quero ver,
Emite sons que eu não quero ouvir.
Quero estar vazia, oca.
Receptáculo de outro eu,
Que não este
Que mal reconheço.
E de quem não sei se gosto.