Vou contar-vos uma história,
difícil de compreender.
Mas um facto é um facto,
não há como o esconder.
Todos quantos aqui vêm,
sabem que gosto de ler.
E depois, nas horas vagas,
lá vou tentando escrever.
É algo que muito me apraz,
(embora me escasseie a mestria),
e do jeito que sou capaz,
vou dando forma às palavras,
desculpem, é uma mania,
e torno-as dor ou mel …
em frases que se escapam
e se espalham no papel .
Pois agora, ultimamente,
vá-se lá saber porquê,
ando distraída, ausente,
sinto que algo está a mudar.
Não é que esta fraca escrevente,
em vez de se tentar apurar
nas letras, de que tanto gosta,
pega nas alfaias às costas
e para a quinta vai labutar!!!
E lá planto, semeio, colho,
toda cheia de vontade.
Mas que parvoíce é esta,
Se o que eu gosto é da cidade?!!!
Tomo conta das vaquinhas,
das ovelhas, das galinhas,
recolho ovos e leite,
colho cerejas e maçã
e tudo com um deleite,
como se não houvesse amanhã!
Internem-me! Peço eu.
Isto está a ficar um vício!
E já que a culpa é tua, Rafael,
(e olha que não tens indulto),
vê se arranjas um empenho,
daqueles bons, dos de antanho ,
para eu voltar às palavras
e estendê-las no papel!
O que eu me esqueci de dizer,
é que a Quinta é a brincar!
E se me apetece ler, trabalhar, escrever,
ninguém me pode enredar.
Mas apesar dos compromissos,
que não posso descurar,
quando dou por mim já fui,
sorrateira, a disfarçar,
para a Quinta “encher chouriços”,
E o trabalhinho, a aguardar!
É ou não é um caso sério?
Um caso para me inquietar?