Quinta-feira, 14 de Maio de 2009

 
"Invernia" Carlos Romão
 
 
Não tinha ido ainda, este ano,
ao meu bar, ao bar da praia.
Escolhi ir lá hoje, tal era o desejo.
Mas o tempo montou-me uma cilada.
O sol cobriu-se de nuvens.
Não daquelas grossas, espessas
que trazem no ventre fortes aguaceiros.
Também não daquelas bonitas
a imitar flocos de algodão doce
que brincam connosco às charadas
tentando que adivinhemos
as imagens que elas desenham.
E como se divertem e fogem…
E como me divirto e fico…
Não, as nuvens hoje eram daquelas, altas e cinzentas,
que apenas tapam ligeiramente o sol,
apenas o suficiente
para o não deixar acalentar-nos as almas.
Ciumentas.
Sabiam que eu ia ao meu bar
cumprimentar o Sol, a areia,
as rochas escuras, as gaivotas e, o Mar.
Sempre o Mar.
O Mar de sempre.
E, invejosas, toldaram o dia.
O sol não brilhou,
a areia não refulgiu,
o Mar manteve-se austero e escuro
fustigando as negras rochas,
espumando sobre elas a sua raiva.
As gaivotas montavam guarda
em grandes bandos orientadas pelos ventos…
E eu,
eu não tive coragem de me desencantar.
Eu, não fui…
 
Donagata em 2009-05-14



publicado por Donagata às 17:33

Imagem de Salvador Dali
 
Abro lenta e preguiçosamente os olhos
num deleitoso acordar.
Bem junto a mim, estás tu
que te abres no meu próprio ser.
Abraçados, seduzidos, quedamo-nos a ver,
aquele azul brilhante, imenso, ubíquo,
que nos faz sonhar.
Simplesmente o mar!
 
Donagata



publicado por Donagata às 16:26

"Equivocation" by Munguia
 
Se ser mãe viesse acompanhado de instruções!
Se ser mãe nos tornasse capazes de super-acções!
Já te tinha retirado as tuas tristezas,
reavivado essas horas desoladas,
arrancado todos os vestígios de mágoa,
transformado esse olhar sofrido e doce,
em brilhos fulgurantes de alegria,

 e acordado desses momentos de apatia.

E acredita, faria isso, ainda que para tal,
tivesse que guardar para mim todas essas feridas 
bem abertas, sem lhes vislumbrar um final.
Estaria bem mais feliz, dolorida,
do que estou assim, desta forma, marginal.
 
Donagata



publicado por Donagata às 16:05

"Gato à Janela" de A. Hiroshige
 
Quando ao fim do dia chego a casa com cautelas

e vagarosamente me aproximo a observar,

procuro o brilho de olhos que das janelas,
me vigiam no meu lento avizinhar.
Os meus gatos pachorrentos mas felizes,
que me aguardam num sereno repousar
fazem pose para que eu os poetize,
e com languidez gozam do prazer
que experimentam ao poder aproveitar
os derradeiros raios de sol do entardecer.
E é ao vê-los assim tão confiantes,
tão soltos mas também tão expectantes,
tão seguros, tão altivos e tão belos,
com olhares tão meigos, tão sinceros,
que me rendo embevecida só de os ver
e percebo que eu sem eles,
era eu sem ser
 



publicado por Donagata às 13:46

 
É um momento estranho,
aquele que estás a passar.
É teres muita vontade de ir
e estares triste por não ficar.
Estás cansada, exaurida
do tanto que te é pedido.
Sentes uma raiva incontida,
uma dor, uma impotência,
sentes no peito, cingido
já a saudade da ausência.
É a escola que tu amas!
É o teu reduto, a tua “casa”!
E se de cansaço reclamas
tentando não sucumbir,
pelas colegas já chamas,
mesmo ainda sem partir.
É difícil o momento!
Direi mesmo inenarrável
Se já te falta o alento
e a dor é inefável,
também esse abrandamento
que vais ganhar com a ida,
essa resposta a um chamamento
que te faz a tua vida,
não a deves ignorar,
nem tentar esquecer-te dela.
É uma nova fase tua.
Uma etapa muito bela!
Em que poderás ser tudo,
aquilo que imaginares,
que quiseres, com que sonhares.
Podes ser uma Cinderela,
em vestido de veludo,
ou uma dama mais singela
que abraça um gato felpudo.
Seja qual for a tua escolha,
(podes até ser ambiciosa)!
Vive a vida, folha a folha
com a suavidade de uma rosa.
 
Donagata



publicado por Donagata às 13:39

"Vénus ao Espelho" por Diego Velasques
 
Olho para o espelho, de manhã,
e subitamente,
como quem acorda de um pesadelo,
reparo que este me devolve
uma imagem que não conheço,
que não é a minha, seguramente.
Não é aquele rosto que veste a minha alma;
que reflecte o meu sentir, que retrata o meu fulgor,
a minha força, a minha exuberância,
a minha crença na vida, na alegria, no amor.
Eu não sou aquele rosto!
Eu, estou viva!
 



publicado por Donagata às 13:19
O diário do meu alter-ego. O irreverente, desbocado, mal disposto e insensato alter-ego. Mas também o sensível, o emotivo, o lamechas, aquele que tenta dizer coisas de forma bonita... Assim num pobre arremedo poético.
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