Segunda-feira, 11 de Maio de 2009

 
 
Como é difícil, ás vezes, 
caber dentro da vergonha
que é sentir-me achincalhada
por aqueles que deviam
fazer-me sentir amada.
 
Como é difícil ouvir,
diante de quem está a escutar,
palavras de troça e sorrir,
quando a vontade é de chorar.
 
Como é amargo duvidar,
de tudo o que eu tinha certo.
Julgar que era querida,
por quem me rodeia na vida,
que afinal é um deserto.
 
 



publicado por Donagata às 14:38

"Banhistas" de Picasso
 
Deito-me de bruços
e fecho os olhos.
Abandono o corpo
aos raios tímidos 
que teimam em passar
a frágil cortina de nuvens brancas
e torna subtis os
beijos dourados  com que
aquecem a minha pele.
 
Deito-me de bruços
e fecho os olhos.
Escuto o rumor das ondas,
O seu fragor,
quando quebram na rocha negra,
que se aquieta e se amacia
onde, um dia,
as águas lhe apagaram o fogo
e lamberam a ferida ardente.
 
Deito-me de bruços
e fecho os olhos,
enquanto ouço o suave roçagar
das asas das rolas.
Sobrevoam incansavelmente as águas,
transformando-se,
por breves momentos,
em belíssimas aves do paraíso,
ao vestirem os seus corpos
dos inacreditáveis matizes de azul
que o reflexo das águas, lhes empresta.
 
 
Deitada de bruços e,
ainda de olhos fechados,
vou passando, erraticamente,
os dedos pelo chão colorido
desenhando obras primas
pejadas de sereias
que aguardam ainda,  
os Ulisses mais incautos;
de “meninas do mar”bailando
fazendo rodopiar loucamente
os cabelos de algas finíssimas;
de rochedos no fundo do mar
acolhendo antigos galeões
que apenas deixam antever
os seus finos tesouros perdidos,
de civilizações esquecidas
nas profundezas das águas...
 
Abro os olhos lentamente,
contrariadamente...
Algo indefinível ainda,
me obriga a sair do doce torpor
em que havia mergulhado.
O sol,
talvez na sua persitência mansa,
havia diluído o manto de nuvens
que o cobria.
Procuro uma sombra.
Sento-me,
protegida de outros beijos
mais dolorosos, mais intensos,
que não desejo
e olho esse mar de frente.
Quero fixar os seus tons,
os seus movimentos,
os seus sons,
ora sussurrantes, ora fragorosos,
os seus cheiros, intensos e doces.
Quero colá-los à pele,
senti-los em mim,
fazer, também eu,
parte desse infinito.
 



publicado por Donagata às 12:57

Fotografia de Joana Almeida
Fotografia de Joana Almeida
 
Mais um dia que acabou
Um dia calmo, indolente
E esta pessoa que sou
Sufoca, arde impaciente.
 
É uma quietude perdida
Uma agitação crescente
Que enche a alma, dorida
Que chora de raiva ardente.
 
E na garganta se prende
Este nó que vai crescendo
Que me fere, que me exaure
Numa dor que não entendo.
 
E esta fúria que não pára
Que a quietação apagou
Esta irritação insana
Nesta pessoa que eu sou,
 
Tem de recuar, de fingir,
De serenar, aquietar
De disfarçar, de sorrir…
E outro dia  começar.
 
 



publicado por Donagata às 12:20

 
Imersa numa densa escuridão
Que teima em envolver-me
Vestindo-me o corpo e a alma,
Escuto:
As gotas de chuva tombam,
Pesadas,
Intensas,
Ritmadas,
Nas folhas das árvores do jardim,
Que gemem baixinho
Num sussurro.
Pelos vidros da ampla janela
Através da qual
Não vislumbro senão sombras,
Deslizam fios de água
Que suportam lágrimas azuis.
Lágrimas de um choro
De quem já foi perdoado,
Ou lágrimas de perdão
De quem nunca havia chorado.
 
 
Donagata



publicado por Donagata às 12:13

Imagem: "Bride" by Chagal
 
Gostaria de te oferecer, amor
Palavras que tu sentisses
Sem equívocos, sem dúvidas,
Poderem apenas ser minhas.
 
Gostaria de saber, amor
Embrulhar-te no meu abraço
Incendiar-te com este fogo
Que, embora sereno,
Arde ainda com fulgor.
 
Gostaria de te mostrar, amor
Esta pessoa que te chama,
Este coração que te ama
E esta alma despida
Por ti, para ti,
Amor da minha vida.
 
Donagata



publicado por Donagata às 00:07
O diário do meu alter-ego. O irreverente, desbocado, mal disposto e insensato alter-ego. Mas também o sensível, o emotivo, o lamechas, aquele que tenta dizer coisas de forma bonita... Assim num pobre arremedo poético.
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