Caminho, alheada, pela vereda
que me conduz ao portão.
Os cubos de granito da passagem
fascinam-me de uma forma
que não controlo, que não entendo
e a que devo dizer : não!
Passo, atrás de passo, atrás de passo,
lento, cadenciado, impensado,
caminho de olhos presos aos pés,
que gatinham pelo chão;
às unhas brilhantes, de verniz,
que adornam dedos irrequietos
como vermes gordos e rosados,
que se agitam, porque agonizarão
na própria sombra.
Na sombra que me angustia,
que se pega, que se agarra
que se prende que me segue, que se adianta…
A sombra, que sou eu sem ser
que me reproduz sem eu querer,
que me prende, que me agarra,
Sempre colada aos meus pés
e às pedras da calçada.