"Invernia" Carlos Romão
Não tinha ido ainda, este ano,
ao meu bar, ao bar da praia.
Escolhi ir lá hoje, tal era o desejo.
Mas o tempo montou-me uma cilada.
O sol cobriu-se de nuvens.
Não daquelas grossas, espessas
que trazem no ventre fortes aguaceiros.
Também não daquelas bonitas
a imitar flocos de algodão doce
que brincam connosco às charadas
tentando que adivinhemos
as imagens que elas desenham.
E como se divertem e fogem…
E como me divirto e fico…
Não, as nuvens hoje eram daquelas, altas e cinzentas,
que apenas tapam ligeiramente o sol,
apenas o suficiente
para o não deixar acalentar-nos as almas.
Ciumentas.
Sabiam que eu ia ao meu bar
cumprimentar o Sol, a areia,
as rochas escuras, as gaivotas e, o Mar.
Sempre o Mar.
O Mar de sempre.
E, invejosas, toldaram o dia.
O sol não brilhou,
a areia não refulgiu,
o Mar manteve-se austero e escuro
fustigando as negras rochas,
espumando sobre elas a sua raiva.
As gaivotas montavam guarda
em grandes bandos orientadas pelos ventos…
E eu,
eu não tive coragem de me desencantar.
Eu, não fui…